sexta-feira, 1 de março de 2019

Boas Vindas e Adeus no Campeonato Mítico

O Campeonato Mítico I, que ocorreu em Cleveland, entrou na história do Magic: the Gathering semana passada dando um passo definitivo rumo a uma nova era para o Jogo Oganizado. O primeiro evento de jogo físico desse novo modelo registrou expressivos números de audiência, que pôde ver grandes embates, partidas de alto nível e, como sempre, grandes histórias, que foram sempre acompanhadas por uma excelente equipe de transmissão, mostrando com sucesso o quão grandioso o Magic pode ser. No entanto, antes de mergulharmos nos grandes momentos do último fim de semana, vamos dar uma breve olhada no Metagame do torneio.

Metagame


O campo do torneio não foi uma grande surpresa, correspondendo a muitas das predições da comunidade. Com a adição do segundo conjunto de Shock-lands em Lealdade em Ravnica as bases de mana puderam se dar o luxo de ficarem mais amplas e acomodar mais combinações de cores.

Liderando o formato no Dia 1, e com um alvo em sua cabeça, estava o Sultai Midrange, sucessor dos decks Golgari do formato passado, representando um pouco mais de 20% do campo. Logo em seguida ficaram os decks de Nexo do Destino, com cerca de 14%, que encontrou uma nova casa na interação com o encantamento Reconquista da Natureza, e, embora tenha sido banida do formato Melhor-de-Um, continua um poderoso deck no Melhor-de-Três. O terceiro arquétipo mais jogado foi, com 12,4% do campo, o White-Aggro, que também se aproveitou da abundância de mana do formato para adicionar uma cor, abrindo possibilidades para versões como o Azorius Aggro, pilotada por Márcio Carvalho, com maior acesso a respostas vindas do sideboard. Indo na contramão estava o Mono-Blue Tempo, que se manteve sua base em sua característica mono-colorida, mas adicionou algumas outras importantes melhorias que chegaram com Lealdade em Ravnica, como Pteromandra e Captura da Essência. Finalizando os cinco decks mais populares estava o Esper Control, outra combinação favorecida com a chegada de Lealdade em Ravnica, reunindo as mais poderosas e eficientes respostas que o formato poderia prover.

Correndo por fora ficaram alguns decks que antes aproveitaram tempos de grande popularidade, como os deck Izzet, em suas versões primariamente com os Dragonetes ou com as Fênix Arco-lume, e os Rx-Aggro, bastante favorecidos pela guilda Rakdos, adicionando tanto poder de fogo, Alfinetada nos Críticos, como combustível, Iluminar o Palco. Além desses algumas novas construções apareceram mesmo que timidamente, como o favorito do público, deck de Portões.

O Dia 2 foi cruel com os desafiantes, no entanto, mantendo os decks mais populares ainda bem confortáveis no topo e na mesma ordem em que apareceram no Dia 1. Em termos de conversão, no entanto as coisas mudam de figura, com os decks Nexo liderando com cerca 71% de seus jogadores chegando ao segundo dia de competições, seguido por White Aggro, com cerca de 67%, Esper Control, cerca de 64%, Sultai Midrange, com 63%, e finalmente o Mono-Blue Tempo, com 60%. Esses números são um pouco desviados pelas performances em Draft, mas são um bom indicativo de como se comportaram os decks num campo aberto.

Em resumo, o Campeonato Mítico I teve um campo com várias construções viáveis, mas que punia os decks desafiantes, talvez por serem menos preparados que os demais. Em formatos assim o que acaba prevalecendo é a habilidade individual dos jogadores, sua experiência com o jogo e com o deck que estão pilotando, e é justamente essa a imagem pintada pelo Top 8.

A Conquista de Autumn


Ao fim das 16 rodadas um Top 8 diverso e de altíssimo nível surgiu, com três jogadores pilotando o Mono-Blue Tempo, Reid Duke, Autumn Burchett, e Julien Berteaux. Além desses tivemos Luis Scott-Vargas com Izzet Phoenix, Alex Majlaton com um Gruul Aggro, Yoshihiko Ikawa com Esper Control, Márcio Carvalho com seu Azorius Aggro e, finalizando, Michael Bonde com Simic Nexus.

Na chave de cima do Top 8 o grande embate já se daria na primeira rodada, entre Márcio Carvalho, que vêm encontrando muito sucesso recentemente e chegou a seu sexto Top 8, herdando performances dos tempos de Pro Tour, e Luis Scott-Vargas, que com seu décimo Top 8 em Campeonatos Míticos reacendeu o debate de quem seria o melhor jogador de Magic de todos os tempos. Ao fim LSV levou a melhor vencendo por 3-1 e chegando a sua segunda semifinal consecutiva.

Do outro lado Autumn Burchett, com dois títulos nacionais da Inglaterra consecutivos e chegando pela primeira vez num Top 8 desse nível de competição, ganhava seu primeiro mirror do dia contra Julien Berteaux, enquanto Reid Duke, considerado um dos melhores jogadores de Magic em atividade e com boas chances de uma possível indicação ao Hall da Fama, se isso ainda for possível, enfrentou e venceu Alex Majlaton, o que levou os dois a se enfrentarem num dos duelos mais tensos do campeonato.

A semifinal entre Autumn e Reid seria um jogo que colocaria a prova a habilidade dos dois competidores. Por um lado Autumn era uma especialista no Mono-Blue Tempo, deck que vem jogando e aprimorando por toda a temporada. Por outro Reid, mesmo que fosse novo com o deck, é um jogador experientíssimo e de alto nível, colecionando sucessos em sua carreira. As partidas foram intensas, e uma bela maneira de desmistificar a popular opinião que decks Aggro são mais fáceis de pilotar, mas, após quatro duros jogos Autumn saiu vitoriosa com um 3-1 que a levou à final contra Yoshihiko Ikawa, que venceu Luis Scott-Vargas e garantiu sua chegada à final apenas em seu segundo Top 8.

A final então seria um embate entre o Esper Control de Yoshihiko Ikawa e o Mono-Blue Tempo de Autumn Burchett. O primeiro jogo foi um exemplo perfeito da força pelo qual o Mono-Blue Tempo ficou famoso. Mesmo com um começo lento Autumn foi capaz de estabelecer uma ameaça, protegê-la com contra-mágicas e ainda aprimorá-la com Obsessão Curiosa. Ikawa até tentou, mas estava em muita desvantagem, perdendo o jogo. No segundo jogo Ikawa de pronto se livrou de uma Obsessão Curiosa da mão de Autumn e também das ameaças que surgiram com remoção pontual ou mesmo limpando o campo quando necessário. Isso lhe garantiu a vitória que o levou empatado às partidas com sideboard.

Sideboard esse que foi o trunfo de Ikawa no terceiro jogo, com Kaya brilhando e se livrando de ameaças e depois Teferi consolidando a vantagem. Ikawa estava a uma vitória do título e Autumn teria que vencer duas seguidas, e já começou intensa, novamente mostrando a força de seu deck, que anulava com precisão as ações de Ikawa uma atrás da outra, que resistiu e conseguiu limpar o campo, embora já com pouca vida. Se iniciava então uma corrida por uma ameaça e Autumn a achou logo, em um de seus drop-1. Ikawa tinha a resposta, mas, temendo as contra-mágicas iniciou seu turno com uma mágica isca, que foi mordida por Autumn. Ikawa viu então o caminho livre para jogar O Ancião Renascido só para ser devastado por um Perfurar Mágica no tempo exato. Essa jogada foi a grande responsável por, turnos depois, Autumn empatar tudo de novo, levando ao jogo cinco.

Ambos iguais indo para o jogo final. Autumn estabeleceu sua ameaça em Pteromandra e foi capaz de anular as remoções apontadas para ela. Uma mágica após a outra ia caindo no cemitério de Ikawa, inútil, enquanto seus pontos de vida diminuíam até que chegaram ao ponto final: era destruir a criatura ou morrer por seus ataques. Nesse ponto Ikawa conjura um efeito de cólera que cai para mais uma contra-mágica. Então ele tenta recorrer a carta que brilhou em seu favor no jogo três, Kaya, mas é respondido pela carta que brilhou para Autumn no jogo quatro, Perfurar Mágica.

E é assim que Autumn Burchett vence o Campeonato Mítico I e entra na história, não apenas por ser levantar o primeiro troféu de um Campeonato Mítico, mas por ser o primeiro jogador trans, não-binário e que não é um homem campeão de um torneio desse nível no Magic: the Gathering. Que belas boas vindas a um Top 8! Feito que é melhor compreendido ao assistir sua entrevista pós vitória.
Assista a 2019 Mythic Championship I - Day Three End Step de Magic em www.twitch.tv


Adeus a Brian David-Marshall


E isso nos leva ao nosso último personagem, o icônico BDM, que está se aposentando da cobertura de eventos de Magic para assumir uma posição em outra empresa. Brian David Marshall está na cobertura do jogo desde que ela começou, poucas pessoas conhecem o jogo como ele. Foi com ele que conhecemos vários dos jogadores que hoje consideramos os melhores e também foi com ele que conhecemos membros da cobertura de eventos que nos acostumamos a escutar. Para perceber o carinho que a comunidade tem com ele basta ler as respostas ao anúncio de sua aposentadoria.

Seu impacto vai muito além de cada campeonato, inspirando muitos a fazer seu melhor, seja competindo, assistindo, cobrindo ou produzindo outros conteúdos que podiam nem mesmo ter relação com o jogo. Brian terá para sempre seu lugar no Magic e sua falta, com certeza, será sentida.
Assista a 2019 Mythic Championship I - Top 8 de Magic em www.twitch.tv


E assim colocamos um ponto final no Campeonato Mítico I, evento cheio de emoções. Qual foi seu momento favorito? Qual jogador? Qual carta? Sinta-se livre para usar nossa seção de comentários. Obrigado pela leitura.

Thiago Santos

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