sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Ultimate Masters e Number Crunch

Magic: the Gathering é um jogo com muitos níveis de complexidade e que exige o uso de muitas variáveis para ser entendido como um todo, mesmo que, na prática, isso não seja representado em situações de jogo mais comuns, como as partidas casuais. Então, para obter uma maior compreensão do jogo e possivelmente melhorar suas perspectivas como jogadores, seja competindo ou não, vários modelos matemáticos muito interessantes são aplicados às mais variadas situações.

Usamos modelos matemáticos para situações de jogabilidade, como saber quantos e quais terrenos usar em um deck específico e qual a probabilidade de comprarmos certa carta até um certo momento do jogo, muito útil para decks Combo, por exemplo, e situações fora do jogo, como o valor esperado ao se abrir um booster ou a possibilidade de encontrarmos uma certa carta nele.

Uma situação específica que ocorre fora das mesas, mas de muito interesse da maioria dos jogadores, é saber se uma carta pode ou não ser lançada como um reprint numa coleção. E, com o anúncio de Ultimate Masters, a nova e, por enquanto, última coleção da série Masters, essa se tornou uma questão muito importante para as próximas semanas. Ainda bem que temos um método à mão desenvolvido para sanar essa curiosidade, então vamos entender como funciona o Number Crunch.

Como um adendo, na comunidade de Magic alguns autores já são conhecidos e bem referenciados por suas análises numéricas robustas, mas acessíveis. Como bons exemplos temos Frank Karsten, jogador aposentado holandês que concentra seus cálculos para situações que podem ser encontradas dentro do jogo e escreve para o Channel Fireball, e Saffron Olive, que concentra suas atenções às finanças e economia do Magic, escrevendo para o MTG Goldfish. Se você tiver interesse, estas são ótimas fontes de boas leituras.

O que é o "Number Crunch"

 

Em geral, number crunch é uma expressão do inglês, especificamente da computação, usada para caracterizar trabalhos que requerem um grande acúmulo e processamento de dados. Trazido ao contexto de Magic, especificamente às temporadas de spoilers, a expressão ganha o sentido de saber quais cartas são possíveis de serem relançadas em uma coleção e com isso objetivamente determinar quais cartas fazem e quais não fazem parte do set.

O método usado é muito simples e derivado do fato que a Wizards adota um padrão de numeração de cartas muito fácil de ser previsto. O padrão numera as cartas conforme a seguinte sequência: Incolor que não seja artefato; Coloridas (seguindo a sequência WUBRG); Multicoloridas; Artefatos; e Terrenos; e dentro dessa sequência segue a ordem alfabética dos nomes em inglês. Assim, cada carta é associada a um número de colecionador que vai de 1 até qualquer que seja o número de cartas presentes na coleção. Há ainda outras particularidades, como cartas incolores com custo de mana colorido, como os desprovidos de Batalha por Zendikar, que vão antes das cartas que seriam de suas respectivas cores, e os que seriam multicoloridos antes de todas as cartas multicoloridas, e as cartas multicoloridas que têm custo híbrido, como Mago da Guilda Rakdos, e/ou são cartas duplas, como Expansão // Explosão.

Usando esses números podemos assumir algumas afirmações e determinar outras. Por exemplo, imagine que já saibamos que a carta #95 de Modern Masters 2017 é Assalto Goblin (Goblin Assault) e que a carta #96 é Guia Goblin (Goblin Guide). Isso significa que seria impossível um reprint de Granada Goblin (Goblin Grenade), já que esta ficaria entre as duas na numeração. Da mesma maneira, se fosse conhecido que a carta #80 de Iconic Masters é Espião da Balaustrada (Balustrade Spy) e a carta #82 é Terror Sanguinário (Bloodghast), poderia se manter as esperanças de um reprint de Artista do Sangue (Blood Artist), o que não ocorreu.

Além de cartas específicas podemos obter informações gerais sobre o set. O exemplo clássico disso foi na temporada de previews de Alara Reunida. Para a coleção a primeira carta a ser revelada foi Súplica Ardente (Ardent Plea), mas com a caixa de texto vazia. No entanto o número de colecionador não foi oculto, mostrando 1/145. Essa foi uma maneira charmosa de mostrar que esta seria uma coleção fortemente multicolorida e, de fato, todas as cartas do set são multicor. Podemos também facilmente especular a presença de planinautas conhecidos nas coleções, já que essas cartas começam sempre com o mesmo nome.

Associado a esse raciocínio simples soma-se outras informações que podemos obter sobre as coleções. Por exemplo, no momento que um set é anunciado podemos saber o exato número de comuns, incomuns, raras e mítico raras dele e quando a página de galeria de cartas oficial da Wizards entra no ar é possível obter o número de cartas que cada cor terá. Juntando todas essas informações e, também nos mantendo atualizados quando os spoilers vão sendo revelados, fica cada vez mais fácil e confiável fazer afirmações quaisquer sobre o set sob análise.

O que sabemos sobre Ultimate Masters

 

Assim chegamos à recém anunciada coleção Ultimate Masters, que traz como novidade os Box Toppers, cartas promocionais com um frame especial obtidos ao se comprar uma Booster Box da coleção e todos os 40 Box Toppers já foram revelados. Além deles mais uma carta é conhecida, Sepultar, revelada no site do produto da WPN. São apenas 41 cartas, mas as informações que obtemos delas são enormes.

Um detalhe importante sobre o Number Crunch de Ultimate Masters é que o site Scryfall disponibilizou uma nova ferramenta em sua plataforma com este uso. Essas análises sempre foram feitas entre jogadores, de uma forma coletiva e é interessante ver uma empresa assumindo essa função.

Começando pelas cartas que não estarão presentes na coleção, baseados no fato de que temos  Urborg, Tumba de Yawgmoth como última carta, na posição 254/254, já adquirimos algumas certezas. Para os jogadores de Modern atentos isso elimina do set as chances de vermos um reprint de qualquer fetchland, seja de Zendikar ou de Investida, pois, na prática, é impossível que elas não sejam reprintadas com ciclo completo, e tanto Catacumbas Verdejantes quanto Landa Ventosa já estão eliminadas. Isso é uma pena, já que as fetchs figuram entre os terrenos mais caros de todo o Magic que não estão na Lista Reservada. Além disso, Urborg também elimina alguns outros ciclos e terrenos importantes: não haverá UrzaTron em UMA, já que os três terrenos foram eliminados, o que decepciona tanto jogadores de Modern, quanto de Pauper; nada também de Valakut, o Pináculo Derretido; o único ciclo de Creature Lands de duas cores será mesmo o de Zendikar original, já que Fumarola Errante está eliminada; as Filter Lands de Pântano Sombrio foram eliminadas com Bastião Florestal; e Terras Ermas também ficou de fora, a despeito da demanda que têm em Legacy e Vintage. Lembrando que se você não sabe o que alguns desses termos sobre terrenos significa, você pode dar uma olhada nos nossos Guias de Jargão de Planeswalkers so bre Terrenos Partes 1 e 2.

Pelas raridades e também sabendo que todas as cartas mítico-raras estão entre os Box Toppers, podemos eliminar Jace, o Escultor de Mentes, e qualquer outro planinauta, já que, desde que essa raridade existe, todos os planinautas são mítico-raros, e também Mox de Opala, que nunca recebeu impressão abaixo dessa raridade. Estas cartas estão entre as 3 mais caras do formato, e seriam bons reprints, mesmo que, das atuais 10 cartas mais caras do Modern, 7 já tiveram seu reprint confirmado pelos Box Toppers.

Falando das cartas mais caras de um formato, as três cartas mais caras do Pauper, Oubliette, Manamorfose e Estudo Rístico ainda podem ser reprintadas e mais, são boas candidatas pelas características da coleção ter um perfil voltado mais para colecionadores e cartas mais caras.

Pelas cartas que já foram reveladas, Vida da Marga indica que Escavação vai ter presença no set, o que aponta a possibilidade de Ruínas de Dakmor na posição 240/254. Além disso, Tasigur e Revirar o Tempo, quase que confirmada pela arte promocional do set, indicam a presença de Esquadrinhar e poderiam trazer consigo cartas como Nó Lógico e Cruzeiro do Tezouro.

Essas são apenas algumas das especulações que podem ser tiradas de Ultimate Masters usando o number crunch. Tudo indica que esse será uma coleção com muito valor embutido e, se os produtos forem vendidos abaixo do preço sugerido pela Wizards, como já vêm acontecendo em algumas lojas nos Estados Unidos, e a demanda for realmente o que a empresa espera, o preço de várias staples de muitos formatos pode chegar a um nível acessível aos jogadores. Enquanto isso podemos usar ferramentas como o number crunch e outras para nos prepararmos melhor para o lançamento da coleção, que acontecerá de todo modo.

As especulações não vão para até o lançamento de Ultimate Masters no mês que vem. E você, o que achou do set? Quais reprints você acha necessário? Você já tinha usado ou ouvido falar do number crunch? Sinta-se livre para usar nossa seção de comentários. Obrigado pela leitura.

Thiago Santos

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