sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Redenção e Preços

Nas últimas semanas, além dos torneios, incluindo o PT, e da inauguração do novo Standard, tivemos mudanças grandes e significantes para o Magic como jogo em si, tanto no papel quanto na plataforma online MTGO. Uma das mudanças anunciadas foi a volta da rotação anual ao formato Standard, um passo atrás que a Wizards deu tentando ouvir a comunidade em geral desta vez e não somente os Pro Players. No entanto é sobre a segunda mudança que se trata o artigo de hoje, um corte massivo no tempo de redenção do Magic Online.

Para quem não está familiarizado, no Magic Online há um mecanismo que te permite trocar um set inteiro de cartas virtuais por um set inteiro de cartas reais (de papel) e esse mecanismo é chamado redenção (tradução livre de redemption). Esse mecanismo foi desenvolvido nos primórdios da plataforma para dar às pessoas confiança para investir em cartas virtuais quando ainda não se era comum gastar seu dinheiro online, já que, com a redenção, você poderia resgatar esse investimento caso quisesse. O tempo em que se pode utilizar esse mecanismo é que foi alterado.

O artigo completo para a mudança pode ser visto aqui e diz que cada set de Magic só poderá ser redimido até a data do começo do período de rotação da primeira coleção do bloco seguinte. Para o bloco de Kaladesh, por exemplo, a redenção da primeira coleção começa 30 dias após o lançamento da coleção no MTGO, o tempo padrão, e o mesmo ocorrerá com Revolução de Éter. Quando a redenção para Amonkhet começar, primeira coleção do próximo bloco, tanto Kaladesh quanto Revolução de Éter não poderão mais ser redimíveis.

O caso é que, no sistema antigo, cada set era redimível por mais ou menos 3 anos inteiros, algumas vezes esse tempo chegava a até um ano depois de que o set já tinha rodado do Standard. Por exemplo, a maioria dos sets do bloco de Tarkir ainda poderiam ser redimidos este mês, mas Kaladesh só poderá ser redimida até abril, quando Amonkhet será lançada, e Revolução de Éter, que ainda nem foi lançada, também. Isso nos dá cerca de 7 meses para redimir Kaladesh e míseros 2 meses e meio para redimir Revolução de Éter.

E como diabos essa mudança afeta os preços? De duas formas bem distintas mas interligadas. Uma no próprio Magic Online e outra, acredite, no Magic de papel.

Há estimativas que dizem que o mecanismo de redenção é responsável por 50% do preço das cartas legais no Standard no MTGO, ou seja, se eliminássemos a redenção de uma vez por todas, o preço das cartas cairia pela metade, e isso era aceitável até agora, já que a redenção ia até depois das rotações e, para maximizar o lucro, os jogadores vendiam suas cartas antes disso. No novo sistema é mais provável que tenhamos uma queda grande de preço no fim dos períodos de redenção, que ocorrem no meio de um Standard.

Mas queda de preço não é algo bom? Bem, vejamos. Imagine que você quer um set de uma carta da recente coleção, vamos dizer o Mecanotitã Torrencial. Você pagaria por ele hoje cerca de 43 tix e espera que esse preço não mude abruptamente enquanto ele for legal. No antigo sistema você compraria ele, jogaria com ele por vários Standards e, próximo à rotação, você o vendia por cerca de 35 tix que o ajudariam a comprar as cartas para seu próximo deck. No novo sistema, em abril seu set deve perder metade de seu valor, e, quando você for vendê-lo vai receber apenas 17 tix por ele, o que significa gastar mais dinheiro para fazer seu próximo deck Standard. Ou seja, com a nova regra de redenção é esperado que sua coleção perca valor no meio do Standard e que você gaste mais dinheiro quando a rotação chegar.

O Magic de papel, embora não seja tão óbvio, também é afetado pela mudança. Não dá para dizer com certeza quantos sets de Magic são redimidos, a Wizards não libera esses números, mas estima-se que são por volta de 2000 sets por semana. Em termos de booster boxes, cada redenção aumenta a oferta de Míticas da mesma forma que abrir 3.3 boxes (uma média de 4.5 míticas em uma box para 15 em uma redenção de Kaladesh) e de Raras em 1.68 boxes (31.5 raras em boxes, 53 raras numa redenção). Fazendo uma conta tomando essa média de 2000 redenções por semana, um mês a menos de redenção diminui a oferta de Míticas em cerca de 28000 boxes, e de raras em cerca de 15000 boxes. Por mês. Esse número é absurdo. É MUITA CARTA. E, com tudo isso a menos no mercado o preço das cartas tende a subir, e não há Masterpiece que abaixe. Mesmo que você considere que o Brasil não é um mercado enorme para o MTGO, de forma que a redenção não é tão importante no nosso mercado, os preços nos EUA afetam os preços daqui para lojas e também jogadores (SCG * 2,5?).

Além disso, a redenção também era uma válvula de escape para os preços quando já se parou de abrir boxes. Pense que ninguém deve estar abrindo boxes de Batalha por Zendikar agora, é um set que já foi lançado há muito tempo. Se uma de suas cartas, vamos dizer o Gideon, Aliado de Zendikar, tivesse um súbito pulo no preço agora, como ocorreu com Jace, Prodígio de Vryn, como eu coloco cartas no mercado, para abaixar o preço? A resposta é redenção. As pessoas, e as lojas, passariam a redimir seus sets de BFZ para lucrar, e, com a  maior oferta o preço tenderia a baixar. Se já estivéssemos de acordo com a nova regra de redenção, isso não seria possível desde abril.

É interessante notar que a Wizards vinha numa toada de deixar o Standard mais barato e o MTGO mais simples, mas essa mudança vai simplesmente na contramão desse pensamento, possívelmente aumentando os preços do Standard no papel e complicando a forma de manter suas coleções no MTGO. Essa é mais uma mudança que teremos de aguardar para ver os resultados.

E você, já usou o mecanismo de redenção alguma vez? Sabia que ele existia? O que acha das mudanças, tanto na rotação quanto na redenção? Sinta-se livre para usar nossa seção de comentários. Obrigado pela leitura.

Thiago Metralha

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Pro Tour sob Controle

Todo mundo deve estar sabendo que semana passada rolou o Pro Tour Kaladesh e, como é de se esperar, hoje trazemos um breve resumo do que aconteceu no evento, que foi sediado em Honolulu, Havaí, e trouxe algumas novidades.

Para começar, podemos separar os decks do Dia 1 em três grandes categorias: os decks que estão buscando uma vitória rápida, no turno 4; os decks que estão tentando vencer com suas criaturas no turno 5, esperando que possam parar os decks de turno 4 ou que eles deem azar; e, finalmente, mas de forma alguma menos importantes, os decks controle. 

Olhando os decks mais jogados desde o Dia 1, caímos em 7 grandes decks, número bem alto. O primeiro e o mais jogado deles tem, aos olhos de muitos profissionais, inclusive de LSV durante a cobertura, o potencial de ser o melhor deck deste Standard. O Aetherworks começou com cerca de 18% do campo e conseguiu converter  55 de seus 82 (67,1%) jogadores para o Dia 2, uma das melhores taxas de conversão. No entanto, ainda falta ao deck estabilidade e consistência, e, no Metagame do Dia 2, com uma abundância de decks controle, o deck não foi tão bem e somente um de seus jogadores fez campanha com 8 vitórias.

O segundo deck mais jogado foi o conhecido GB Delírio, com 11,8% do campo, que fez uma campanha confusa no PT. Teve a pior taxa de conversão entre os decks mais jogados (54,4%) e ficou abaixo da média em cada um dos pontos. Não dá para saber se foi uma má performance no Limitado ou se o deck estava mesmo mal adaptado ao campo, teremos que esperar os próximos campeonatos.

Caindo agora para os decks com menos de 10% do campo temos dois BR (Rakdos, para os familiares) com estratégias diferentes. O BR Aggro apostou nas criaturas e teve 8,2% dos jogadores, convertendo 60,5% deles para o dia, com uma performance levemente abaixo da média. Já o BR Madness apostou na loucura e foi o deck com a melhor performance de Dia 1, conversão de incríveis 70,4% de seus modestos 4,5% de meta. O problema com o deck também foi a consistência, já que, embora tenha colocado uma porcentagem considerável de jogadores nas 7 vitórias, ficou bem abaixo da média nas campanhas de 6 vitórias. Com ele foi brilhar ou ser esmagado.

WR Veículos é um deck novinho saído de Kaladesh que foi muito bem no campeonato. O quinto deck mais jogado, converteu um ótimo número de jogadores (69%) e teve uma boa quantia deles com uma sólida campanha de 6 vitórias. Embora não tenha tido muitas campanhas no topo, o deck conseguiu uma vaga no Top 8, o que significa muito mais tempo de tela para mostrar o potencial.

Outro arquétipo de Kaladesh presente foi o de Energia, bem representado nas construções GR, que buscavam finalizar o jogo rapidamente com vários pump-spells no Esmurrador Eletrostático. Embora tenha ficado apenas na média, ver uma criatura batendo 40/40 no turno 4 adicionado ao hype que o deck já tinha no MTGO deve manter o deck na superfície nas próximas semanas no mínimo, mesmo que ele não tenha bons resultados.

Para finalizar e já fazer o gancho para o Top 8 temos o Jeskai Control, deck escolhido pelo brasileiro Carlos Romão. O deck em câmera não deu show e às vezes parecia perdido, descendo Dovin Baan's só para vê-los morrer em seguida, mas, de fato, dos decks mais jogados, ele teve a melhor performance, mesmo com uma taxa de conversão baixa. 44% de seus jogadores ficaram com no mínimo 6 vitórias e 16% ficou acima das 7 e 8 vitórias com Romão cravado no Top 8. Quem achou que o controle ia estar desfavorecido no Meta de Kaladesh errou, e isso é ainda mais verdade se os decks Aetherworks e Pummeler continuarem a brilhar, afinal o que melhor que um controle para parar um combo?

O corte para o Top 8 foi bem diverso, 8 decks diferentes, 7 nacionalidades diferentes, entre eles, é claro, Carlos Romão, que vinha embalado como campeão de Grand Prix. E a grande novidade deste Top 8 foi o novo sistema de enfrentamentos, que visa diminuir os empates intencionais nas partidas finais do Suíço Construído. Os que se classificam em 1º e 2º só entram nas semifinais, e os 3º e 4º só na segunda fase de quartas de finais. Se classificaram os seguintes jogadores nas seguintes posições e pilotando os seguintes decks: 1º Makis, Matsoukas (RW Tokens) [Grécia]; 2º Shota Yasooka (Grixis Control) [Japão]; 3º Pierre Dagen (UR Spells) [França]; 4º Matt Nass (Temur Aetherwoks) [EUA]; 5º Carlos Romão (Jeskai Control) [Brasil]; 6º Ben Hull (WR Veículos) [Canadá]; 7º Lee Shi Tian (Mardu Veículos) [Hong Kong]; e 8º Joey Manner (WU Flash) [EUA].

Confrontos até a semifinal.
A última vez que Romão (ou Jabaiano, como preferirem) tinha chegado a um domingo de Top 8 num evento de tamanho de PT tinha sido há quase 15 anos atrás, mas nessa temporada ele voltou afiadíssimo, conhecendo muito bem o Meta e os decks que pilota e jogando sempre num nível muito alto, digno de suas conquistas. Como se classificou em 5º, ele era um dos que tinha o caminho mais longo até o título e começou sua jornada enfrentando Joey Manner, de quem venceu por 3-1. O segundo confronto foi contra o outro estadunidense do Top 8, Matt Nass, que Romão seubjugou por 3-0. A semifinal lhe reservou confronto contra o 1º do Suíço, o grego Matsoukas, que também foi derrotado por 3-1. É isso aí, Brasil na final.

O confronto final do PT foi entre Yasooka, atual melhor jogador da Ásia, com certeza um dos melhores profissionais de Magic e um mestre em controle. Uma partida mirror, controle vs controle, entre talvez os melhores jogadores de controle deste Standard. As partidas foram apertadas, como sempre são nesse nível de jogo, mas quem se sagrou o campeão do PT Kaladesh foi mesmo o japonês Shota Yasooka, cabendo ao brasileiro Carlos Romão o vice campeonato.

Uma bela taça ganhou Shota Yasooka.
E isso, somado e resumido, foi o que aconteceu no grande evento de Magic da semana passada, o Pro Tour Kaladesh. Você assistiu? Torceu pro Jabaiano ou pro Yassoka? O que achou do LSV na cobertura? Sinta-se livre para usar nossa seção de comentários. Obrigado pela leitura.

Thiago Metralha