sexta-feira, 28 de setembro de 2018

As Histórias do Mundial de Magic 2018

Semana passada aconteceu um dos eventos mais importantes para a cena profissional de Magic: the Gathering quando 24 dos melhores jogadores do mundo disputaram o título de Campeão Mundial. Com tantos talentos envolvidos a competição ficou recheada de belas histórias, muitas que vinham se desenvolvendo há bastante tempo e que trazem um apelo especial às competições.

No entanto isso não foi verdade no que concerne ao formato do torneio principal, que recebeu muitas críticas de jogadores e espectadores. A parte de Limitado se deu com draft de Dominária, coleção lançada há mais de cinco meses atrás, em Abril. O Standard tampouco trouxe muitas novidades, sendo um formato há muito estagnado, apenas esperando a renovação que deve que acontecer semana que vem, com a rotação. Um renovação que será muito profunda, pois, como comentou Saffron Olive em seu twitter, deve atingir aproximadamente 85% do metagame do torneio. De qualquer forma, o RB-Aggro mostrou novamente sua posição de dominância, representando mais da metade dos decks registrados.
Metagame do Mundial de Magic 2018

Resultados do Hall da Fama



Antes de chegarmos à competição de fato, o Mundial 2018 também nos apresentou aos resultados da votação para o Hall da Fama do Pro Tour. As temporadas de votação para a honraria são um ponto de grande divergência entre a comunidade, alguns gostam, outros detestam, mas todos chegam a um acordo na importância de mesmo estar entre os nomeados. Estar no Hall da Fama é a maior honra que pode ser recebida nesse jogo e o objetivo de todo jogador que inicia sua carreira profissional.

Na Turma de 2018, que será condecorada oficialmente no Pro Tour Guildas de Ravnica dentro de algumas semanas, estão dois jogadores. O primeiro deles é o estadunidense Seth Manfield, jogador que já possui um dos currículos mais impressionantes, que conta, por exemplo, com os títulos do Pro Tour Ixalan e do Mundial de Magic 2015, e que, para muitos, está no pico de sua carreira, com muitos anos vitoriosos ainda pela frente. O segundo é Lee Shi Tian, de Hong Kong, que só precisou de uma nomeação para se tornar o primeiro jogador da geo-região Ásia-Pacífico que não é japonês a entrar no Hall da Fama. Junto com seu currículo também robusto, contando com cinco Top 8 de Pro Tours, Lee é louvado por suas contribuições para o jogo em sua região, sendo até mencionado como o "Willy Edel da Ásia".

Parabéns a esses dois jogadores que recebem ao entrar no Hall da Fama do Pro Tour uma honra que premia uma carreira.
Votos para a turma de 2018 do Hall da Fama do Pro Tour

Disputa pelo Jogador-do-Ano


Seth Manfield também estava envolvido em mais uma importante história do fim de semana: a disputa pelo título de Jogador-do-Ano. O prêmio, que é concedido ao jogador com mais pontos em cada temporada baseado em suas performances, manteve-se acirrado ponto a ponto, evento a evento, e terminou num empate entre Seth e o argentino Luis Salvatto quando este último obteve uma ótimo resultado no GP Estocolmo. Embora essa disputa deva ser resolvida em um playoff com local, data e formatos ainda a serem definidos, seria uma boa prévia ver como esses jogadores se sairiam nesse campeonato.

E o resultado para os dois não foi nada bom, com ambos ficando na metade de baixo da classificação. Tanto Manfield quanto Salvatto terminaram o torneio com 18 pontos, mas o argentino ficou à frente na classificação por critérios de desempate. Seria esse um presságio para o que vai acontecer quando os dois se enfrentarem buscando mais um título? Teremos que esperar para ver.

Final do Pro Tour Team Series



Dessa vez continuamos com Salvatto para a empolgante final do Pro Tour Team Series. A equipe Hareruya Latin, formada pelo argentino e seu compatriota Sebastian Pozzo, os brasileiros Carlos Romão, Thiago Saporito e Lucas Esper Berthoud, e pelo português Márcio Carvalho, que venceu a desconfiança e desconsideração com resultados muito expressivos por toda a temporada, enfrentaria a equipe Ultimate Guard, que contava com grandes figuras do Magic, como o considerado melhor jogador de todos os tempos, Jon Finkel, acompanhado de Andrew Cuneo, Paul Rietzl, William Jensen, Owen Turtenwald e Reid Duke, pelo título em equipes jogando um pela primeira vez o Selado de Guildas de Ravnica, formato que todos estavam ansiosos para assistir.

As equipes receberam as cartas e tiveram duas horas para montar os seis decks da equipe. Depois as equipes se dividiriam em dois trios que se enfrentariam e a equipe que conquistasse duas vitórias receberia o título. Se ao final do embate dos trios as equipes estivessem empatadas, os trios vencedores se enfrentariam para por fim à disputa.

Os primeiros trios a se enfrentar seriam Carlos Romão (Dimir), Márcio Carvalho (Boros), Thiago Saporito (Selesnya) contra Jon Finkel (Dimir), Andrew Cuneo (Selesnya) e Paul Rietzl (Boros), numa disputa que não demorou muito. Rietzl pilotou um deck Boros muito rápido e potente e conseguiu sua vitória contra o Selesnya de Saporito. O deck de Boros de Carvalho, no entanto, não era tão rápido ou potente e sucumbiu frente ao Selesnya de Cuneo. Assim a equipe Ultimate Guard terminou liderando o embate.

Os próximos trios que se enfrentaram foram Reid Duke (Selesnya), Owen Turtenwald (Boros), William Jensen (Dimir) contra Sebastian Pozzo (Boros), Luis Salvatto (Izzet) e Lucas Esper Berthoud (Golgari). A situação começou a melhorar para a equipe latina quando todos os seus integrantes venceram suas primeiras partidas. Num novo embate entre Boros e Selesnya, Sebastian Pozzo conseguiu a vitória contra Reid Duke e colocou a Hareruya a apenas uma partida de empatar tudo e levar para o desempate. Jensen e Turtenwald tinham outros planos, no entanto, e venceram, em conjunto, as últimas quatro partidas seguidas para dar à equipe Ultimate Guard o título do Pro Tour Team Series 2017-2018.
A equipe Ultimate Guard é campeã do Pro Tour Team Series 2017-2018!


O Título Mundial


Depois de tudo isso finalmente estamos prontos para a disputa do título do Mundial de Magic, e vamos direto para o Top 4 do evento, que foi muito diverso em termos de nacionalidade, o que é muito bom para o jogo. Classificando em primeiro lugar tivemos o espanhol Javier Dominguez, que no Mundial de 2017 caiu na final para o campeão William Jensen. Ele estava determinado a não deixar isso acontecer novamente e basicamente liderou a competição de ponta a ponta com seu RB-Aggro. Na cola dele estava o polonês Grzegorz Kowalski, que, também pilotando um RB-Aggro, conseguiu uma ótima performance para a primeira vez que disputava esse torneio. Kowalski também contava com um vice-campeonato no ano passado, quando foi o capitão da equipe polonesa que foi à final da Copa do Mundo de Magic. A terceira vaga ficou com o estadunidense integrante do Hall da Fama, Ben Stark, que, prevendo a infestação de RB-Aggro, adotou uma construção mono-colorida e mais rápida, que lhe garantiu ótimos resultados nos Dias 1 e 2. A vaga final foi para o israelense Shahar Shenhar, marcado na história por ganhar o Mundial na primeira vez que se classificou e defender o título no ano seguinte, sendo o único jogador a ganhar dois Mundiais seguidos. Destoando do resto, ele pilotou um UW Gift para tentar conseguir mais um título mundial.

A primeira semi-final se deu entre Dominguez e Shenhar. No primeiro jogo ambos tiveram o começo perfeito e Dominguez começou com ameaças rápidas e constantes, mas elas se provaram inúteis quando Shenhar obteve seu combo no turno 4, o que o ganhou o jogo. No segundo embate Dominguez foi mais comedido e aproveitou seu turno 2 para conjurar um Coração de Kiran que manteve a pressão e acabou levando o jogo. O padrão alternado se repetiu para as próximas partidas, levando a disputa a um jogo 5. Nele Shenhar manteve uma mão que prometia o começo perfeito, como no jogo 1, mas que foi arruinada pelas peças de descarte de Dominguez, que se aproveitou para descer suas ameaças, manter a pressão e conquistar sua vaga na final.

Na outra semi-final Stark, que havia desenvolvido seu deck para ser mais rápido que a concorrência, viu o contrário acontecer para Kowalski. O RB-Aggro continuou a apresentar ameaças rápidas que minaram Stark em três jogos levando o polonês para a final.

A final ficou então para um mirror de RB-Aggro entre Javier Dominguez e Grzegorz Kowalski. Dominguez começou com a vantagem tomando o primeiro jogo nas costas de um Portador da Glória e de um Lança Correntes. Ele começou o segundo jogo com a mesma intensidade, mas dessa vez foi respondido à altura por Kowalski, que manteve o jogo em paridade, abaixando os pontos de vida de Dominguez até um Cortar // Pedaços finalizar tudo.

O jogo 3 foi marcado por planinautas, Karn para Javier e Chandra para Grzegorz. O espanhol abriu mão do dele, no entanto, para remover a do polonês e obter controle do campo com criaturas. As remoções de Kowalski vieram no momento certo, virando o jogo e o colocando em vantagem no embate. No jogo seguinte o sideboard de Dominguez se destacou quando O Ancião Renascido eliminou uma Hazoret e logo depois reanimou um Karn, o que assegurou a vitória, levando tudo para o jogo 5. Tudo foi decidido por um Cair da Perdição que no turno três revelou vários drop-4 na mão de Kowalski. Javier aproveitou então para aplicar pressão sobre o oponente, que não conseguiu achar seus terrenos. Num ataque final Grzegorz Kowalski estendeu a mão e parabenizou o Campeão Mundial de Magic de 2018, Javier Dominguez.
Javier Dominguez saiu de um difícil vice-campeonato em 2017 para se tornar campeão em 2018

O Protesto de Gerry Thompson


A última história do torneio fica para um jogador que abdicou de seu direito de disputá-lo, Gerry Thompson. No sábado, cerca de uma hora antes do início das competições, Gerry anunciou no reddit e em seu twitter que estava abandonando a disputa do mundial em protesto ao estado do Magic profissional.

Entre os pontos citados por Thompson estão um descaso da Wizards em relação aos jogadores profissionais, que recebem mal para jogar em alto nível e não são promovidos, embora sejam grande parte do motivo pelo qual os espectadores assistem Magic. Ele cita ainda uma falta de comunicação entre a Wizards e os jogadores, a falta de convites de Pro Tour capaz de satisfazer a comunidade, o pouco avanço na cobertura de eventos e a postura da Wizards quanto a jogadores que conhecidamente trapacearam.

Em sua postagem Gerry também dá vários exemplos de situações que reforçam seus argumentos, assim como sugestões de como melhorar a experiência profissional do Magic. Ele diz ainda que escolheu esta forma de protesto porque sabia que assim seria notado, já que, segundo ele, o feedback dado pelos profissionais no passado era raramente implementado.

Gerry Thompson abriu mão de no mínimo $2,500 em seu protesto e o potencial de ganhar $100,000 caso fosse campeão. Além disso uma boa performance no campeonato colocaria seu nome ainda mais próximo do Hall da Fama do Pro Tour.

A Wizards já divulgou uma declaração sobre o ocorrido dizendo que "esperavam que este não fosse o caso, mas respeitam a decisão [do Gerry Thompson] de se fazer escutado". O objetivo de todos, Wizards, profissionais e espectadores, é fazer com que o Magic melhore e cresça como um jogo de uma forma saudável e sustentável e as questões levantadas por Gerry Thompson são obstáculos significativos para isso. Esperemos que o final dessa história seja outro sucesso.

E isto finaliza um fim de semana cheio de emoções. Parabéns a Seth Manfield e Lee Shi Tian, turma de 2018 do Hall da Fama do Pro Tour, equipe Ultimate Guard, campeã do Pro Tour Team Series 2017-2018, e Javier Dominguez, campeão Mundial de Magic de 2018!

Grandes decisões, grandes jogadores, grandes histórias. E pra você, qual foi a melhor parte do fim de semana do Mundial? Estava torcendo para que equipe? E jogador? Concorda com as questões levantadas por Gerry Thompson? Sinta-se livre para usar nossa seção de comentários. Obrigado pela leitura.

Thiago Santos

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Guia de Jargão de Planeswalkers - Combinações de Cores

Na base da estratégia de Magic: the Gathering está o sistema de cores do jogo e, passando pelos decks de diferentes formatos, vemos construções com as mais variadas combinações de cores dentre as possíveis. A medida que o jogo foi crescendo, e essas combinações foram se tornando comuns e repetidas, e também acompanhando o progresso dos mundos e da história do Magic, surgiram palavras para que cada combinação de cores fosse rapidamente identificada e caracterizada. No entanto, um jogador iniciante pode achar difícil se encontrar no meio de tantos termos, já que ele não deve entender de imediato o porquê de cada um desses nomes. Dessa forma, neste artigo vamos tentar entender como que cada combinação de cores recebeu seu nome.

A série Guia de Jargões de Planeswalker foi criada com o intuito de esclarecer a você, jogador, os diversos termos que preenchem os registros de Magic: the Gathering. Anteriormente já cobrimos as nomeclaturas dos terrenos em duas partes (Parte 1 e Parte 2), então se você ainda não conhece termos como "shock lands" e "filter lands" não deixe de dar uma olhada.

Combinação de Uma Cor


Começando com as mais simples das combinações, as mono-coloridas. Para identificar os decks que contém apenas uma cor apenas colocamos "Mono-Cor" na frente do nome do deck, utilizando normalmente os nomes das cores em inglês. Assim um deck com somente a cor branca se torna um Mono-White e um com somente a cor azul se torna um Mono-Blue. Os nomes em inglês são utilizados porque eles normalmente são menores que os em português, é menos custoso falar "Red" do que "Vermelho", além de, é claro, o Magic ter sido criado em inglês.

Para além disso cada cor recebeu uma abreviatura de uma letra, que será muito importante nas seguintes combinações. Seguindo a inicial do nome da cor em inglês temos o Branco representado pela letra W (de white), o azul por U (de blue), preto por B (de black), vermelho por R (de red) e verde por G (de green). Nota-se que azul e preto têm a mesma inicial (blue e black, respectivamente) então manteve-se o preto com B e trocou-se a do azul por U.

Combinações de Duas Cores


Seguindo o compasso de cores do Magic, há duas maneiras de se combinar duas cores: com pares aliados e inimigos. Pares aliados surgem quando se alia uma cor com sua vizinha imediata, seja à esquerda ou à direita. Já os pares inimigos aparecem quando se alia uma cor com as cores opostas à sua posição no compasso, ou seja, com as que não são suas vizinhas. Juntando essas duas maneiras teremos um total de dez combinações de cores possíveis, cinco aliadas e cinco inimigas.

De todo modo, para nos referirmos a uma combinação de cores apenas usamos as abreviaturas de uma letra citadas logo acima, normalmente na ordem que aparecem no compasso, com a exceção do branco, que é colocado no final. Dessa forma, se aliarmos as cores azul e vermelho teremos um deck UR, se aliarmos vermelho e verde temos RG e se aliarmos preto e branco temos BW. Também podemos usar os nomes completos das cores, tanto em inglês como em português, mas isso é mais incomum.

As combinações de duas cores são intensamente exploradas nas coleções do plano de Ravnica, que nos apresentou ao sistema de Guildas. Nele, cada combinação de duas cores recebeu um nome, uma estrutura e ideais, que são expressos em mecânicas no jogo. As Guildas de combinação aliada são: O Senado Azorius (UW); A Casa Dimir (UB); O Culto Rakdos (BR); Os Clãs Gruul (RG); e o Conclave Selesnya (GW). As Guildas de combinação inimiga são: O Sindicato Orzhov (BW); A Liga Izzet (UR); O Enxame Golgari (BG); A Legião Boros (RW); e o Conluio Simic (BG).

Nos Standards em que os sets de Ravnica são legais normalmente se usa os nomes de guildas para combinações de duas cores, de forma que um deck BR-Aggro passaria a se chamar Rakdos Aggro. Isso não é feito nos demais formatos justamente porque as guildas têm estrutura e ideais definidos. Por exemplo a carta Adeliz do Vento Cincento é definitivamente uma combinação entre vermelho e azul, mas de forma alguma representa os ideais da Liga Izzet. Então, a menos que o deck realmente represente a guilda, são usadas as abreviaturas de duas letras para decks de duas cores.

Combinações de Três Cores


De maneira muito semelhante às combinações de duas cores, há duas maneiras de se combinar três cores no Magic. A primeira delas é, partindo de uma cor, caminhar mais duas cores, para a esquerda ou para a direita, sem pular nenhuma cor. A essas combinações damos os nomes de Shards. A outra forma possível  é, partindo de uma cor, caminhar duas cores, para a esquerda ou para a direita,  pulando uma, e apenas uma, cor. Essas combinações são chamadas de Wedges, já são formadas por "quinas". Também como nas combinações de duas cores, se juntarmos essas duas maneiras, teremos um total de dez combinações de três cores possíveis, cinco Shards e cinco Wedges.

Antes mesmo que recebessem seus nomes as combinações de Shards já causavam muito impacto no jogo, aparecendo num dos ciclos mais icônicos de todo o Magic. Cada dragão do ciclo de Dragões Anciões de Lendas que deu origem ao Commander, Nicol Bolas, Palladia-Mors, Vaevictis Asmadi, Chromium e Arcades Sabboth, representava uma combinação. No entanto somente na coleção Fragmentos de Alara (Shards of Alara), em 2008, foi que a nomeclatura se estabeleceu. As combinações acabaram por tomar o nome dos fragmentos do plano de Alara: Bant (GWU); Esper (WUB); Grixis (UBR); Jund (BRG) e Naya (RGW).

Já as combinações Wedge demoraram ainda muito tempo para que fossem agraciadas com uma coleção inteira dedicada a elas, mas muito antes disso elas receberam seu próprio ciclo de dragões icônicos em Caos Planar com Intet, Numot, Oros, Teneb e Vorosh. A espera foi recompensada em 2014 com o lançamento de Khans de Tarkir, plano inspirado pela história asiática. Nele os Khans, que representavam aspectos dracônicos, se organizavam em combinações de três cores que deram nome definitivo às Wedges: Abzan (WBG); Jeskai (URW); Sultai (BGU); Mardu (RWB); e Temur (GUR).

Assim como as guildas os Shards e Wedges tiveram filosofias e mecânicas bem definidas quando foram usados, tanto em Alara, tanto em Tarkir, como nos outros ciclos em que foram empregados em coleções pontuais. No entanto isso não os impediu de se tornarem a nomeclatura padrão para decks de três cores.

Combinações de Quatro Cores 


Há apenas cinco combinações de quatro cores possíveis no Magic, formadas a partir da exclusão de uma das cores do compasso. Pode-se referir-se a elas de algumas maneiras, como pelas abreviaturas de quatro letras, representando cada cor, e pela cor que não está presente na combinação. Em alguns formatos, especialmente Standards, quando as bases de mana são amplas e permitem splashs para a quarta cor, também podemos usar o nome da combinação de três cores principal do deck mais a quarta cor. Assim um deck com as cores azul, preto, vermelho e verde se chamaria UBRG, Sem-Branco ou Temur-Black (Temur-B), dependendo do sistema adotado. No entanto a maneira mais comum a se referir a decks quatro cores de qualquer combinação é simplesmente chamá-los 4C ou Quatro-Cores.

No commander as combinações de cores de um deck são definidas pela identidade de cor de seu comandante, mas por muito tempo as únicas criaturas de quatro cores do Magic foram os Nephilims lançados em Pacto das Guildas, 2006, que nem mesmo são lendários. Apesar disso, eles eram as únicas opções para chefiar os decks de quatro cores do formato, de forma que as combinações foram por muito tempo chamadas por seus nomes (em inglês): Yore-Tiller (Sem-Verde); Glint-Eye (Sem-Branco); Dune-Brood (Sem-Azul); Ink-Treader (Sem-Preto); e Witch-Maw (Sem-Vermelho). O problema dos decks de quatro cores foi resolvido no formato com o lançamento da coleção Commander 2016, com os próprios comandantes e a mecânica Parceiro, mas até hoje somente dois ciclos de criaturas de quatro cores foram lançados.

Combinação de Cinco Cores


Para finalizar voltamos à simplicidade total com a combinação de cinco cores, WUBRG, carinhosamente chamada de "wuburgue". Curiosamente, ao contrário do que acontece nas combinações de quatro cores, há uma grande variedade de criaturas e comandantes de cinco cores. Raramente se vê construções de cinco cores no cenário competitivo, mas quando se vê, elas são chamadas de 5C ou Cinco-Cores. O mesmo acontece no jogo não competitivo.
WUBURG

E isso coloca um fim a todas as combinações de cores possíveis de usar ao se construir um deck de Magic. Todas elas já tiveram representantes de sucesso nos mais diversos formatos e essa incrível variedade é um dos maiores atrativos do jogo.

E você, qual a sua combinação de cores favorita? Você chama seu deck de duas cores pelo nome da guilda que o representa? E quais cores você usa com mais frequência? Sinta-se livre para usar nossa seção de comentários. Obrigado pela leitura.

Thiago Santos

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Construindo Bases de Mana no Standard de Guildas de Ravnica

Para o alívio de muitos e a comemoração geral dos jogadores de Magic foi confirmado o reprint das Shocklands em Guildas de Ravnica, o que é uma ótima notícia para diferentes grupos. Para quem estava interessado em comprar algumas cópias a oferta dessas cartas deve ser inundada pela impressão nas novas coleções, abatendo imediatamente seu preço. Para quem está interessado em comprar produtos selados dos novos sets o reprint significa valor certo, já que estes terrenos, mesmo com a oferta ampliada, têm um patamar do qual seu valor não deve cair e, depois de um certo tempo, devem recuperar uma boa parte de seu preço devido à alta procura. E para o jogador de Standard a impressão de Shocklands no formato significa bons anos de bases de mana maravilhosas.

No decorrer deste texto vários jargões relacionados aos terrenos serão usados. Se você não sabe o que os termos "Shocklands", "Checklands", ou algum outro termo significam, dê uma passada por nossos Guias de Jargão dos Planeswalkers, onde já explicamos, em duas partes, algumas terminologias referentes aos terrenos.

As Shocklands são terrenos duais notáveis, pois possuem  os subtipos característicos de terrenos básicos (Planície, Ilha, Pântano, Montanha e Floresta) e se tornam excepcionais quando em conjunto com outras cartas que se importam com esses subtipos. No Modern, por exemplo, elas podem ser buscadas pelas Fetchlands, formando o pilar principal das bases de mana do formato. No Standard de Guildas de Ravnica elas se beneficiarão da interação que têm com as Checklands, permitindo que essas entrem em campo de batalha desviradas, o que influencia com grande peso o modo como se constrói as bases de mana, facilitando para que elas fiquem mais amplas.

Basicamente a facilidade de usar cada combinação de cor tem relação direta ao acesso que elas têm aos seus respectivos terrenos duais, no caso Checks e Shocks. Por exemplo, a combinação Azorius se importa com os terrenos duais UW, enquanto a combinação Grixis se importa com os terrenos UR, RB e UB. Sabemos que em Guildas de Ravnica todas as checklands estarão disponíveis, de modo que não são um fator limitante em quais cores adotar. Por outro lado, somente cinco guildas serão lançadas na próxima coleção de Ravnica, colocando o peso de fator limitante nas Shocks. Assim, a priori, é mais fácil construir as combinações que têm acesso ao maior número de Shocks possível.

Concluindo, as guildas definem quais serão as boas combinações de cores. No caso de Guildas de Ravnica as boas combinações de duas cores serão Dimir, Selesnya, Izzet, Golgari e Boros. As melhores combinações de três cores serão aquelas que têm acesso a duas Shocklands, e são Jeskai, Naya, Grixis, Sultai e Abzan. Sabendo as combinações favoráveis falta decidir quais e quantos terrenos duais usar.
 
Como já dissemos, no lançamento de Guildas de Ravnica todas as Checklands já fazem parte do formato, impressas recentemente nas coleções Ixalan e Dominária, e serão lançadas apenas cinco das Shocks. Esse padrão repete a combinação que vimos no já longínquo, e muito saudoso, Standard de Retorno a Ravnica, então vamos buscar lá a informação necessária para montarmos as bases de mana para o futuro Standard.

GP Atlantic City 2013

Para colher dados sobre as bases de mana presentes no Standard de Retorno à Ravnica escolhemos analisar as decklists do GP Atlantic City 2013, o último GP com formato Standard antes do lançamento de Portões Violados. Naquela altura todos os jogadores já haviam se adaptado perfeitamente às restrições de construção de decks que tanto os terrenos quanto das mágicas disponíveis no formato. Além disso esse foi um evento exemplar em termos de diversidade, tanto em cores quanto em arquétipos, e compreende bem esse princípio do Standard da época.


Na análise dos decks que chegaram ao topo da competição, podemos ver que a limitação das Shocks em nada influencia no equilíbrio das cores no formato, sendo que o vermelho é a cor mais representada, impulsionada pelo popular Red Deck Wins, um deck mono-colorido que figurava entre os favoritos da época. Quando vemos o número de cores que cada deck usa, vemos que construções de três cores representam mais de 55% dos decks e ainda temos alguns decks que vão ao limite, usando quatro cores, exemplificando a facilidade de se construir bases de mana mais amplas com a combinação Check + Shock.

Juntando todos os decks temos uma média de aproximadamente 6,5 Shocklands e 7 Shocklands usadas para cada deck. Ainda temos uma média de 3 terrenos de utilidade, muito comuns no bloco de Innistrad, 7,4 terrenos básicos e 24 terrenos totais em cada deck. Estes números têm desvios grandes devido aos dois exemplares de Red Deck Wins no Top 16 do torneio, que não usam nem Shocks nem Checks, e usam mais de 20 Montanhas em sua base de mana.

Então, eliminando esses dois decks da equação ficamos com médias de 7,35 Shocks, 8 Checks, 3,2 terrenos de utilidade e 5,3 terrenos básicos para cada deck, que também ficam em torno de 24 terrenos totais. Esses números já nos dão um belo indicativo de como montar a base de mana, em torno de 7 Shocks e 8 Checks, mais podemos refinar ainda mais esses dados.

Decks de Duas Cores

Olhando somente para os decks de duas cores vemos que eles tem média de exatamente 4 Shocks e 4 Checks, o que é óbvio, pois são as Shocks e Checks que representam as identidades de cores de cada guilda. Além disso tinham média de 3 terrenos de utilidade  e 11,5 básicas. Os terrenos básicos podem ser muito rapidamente escolhidos conforme a proporção de cores nos custos das mágicas do seu deck, assim, a decisão fica para quais lands de utilidade usar, o que deve variar de arquétipo para arquétipo. No Standard de Guildas de Ravnica teremos algumas boas opções, como Arco de Orazca, Torre do Relicário e Campo da Ruína.

Decks de Três Cores

Os decks de três cores são aqueles que mais se beneficiam da interação entre Shocks e Checks, portanto não é surpresa ver que eles têm médias altas, com 7,5 Shocks e 9 Check. No entanto vemos novamente um desvio nestes dados, causado pela presença do Esper Control. Esper não é uma combinação favorecida pelas guildas presentes em Retorno a Ravnica, então o piloto teve que ir bem fundo no uso de Checks para compensar a falta de Shocks. O deck usa as 4 Shocks que tem acessível e um número incrível de 11 Checks. Ele é um bom exemplo de que dá para contornar a escassez de Shocks, se estiver disposto a pagar o custo por isso.

Sem o Esper Control, os decks de três cores têm média de 8 Shocks e 8,8 Checks, com 3 terrenos de utilidade e  4 terrenos básicos. Novamente, as Shocks são óbvias, são aquelas acessíveis à combinação de cor. A dúvida dessa vez paira sobre as Checks e isso se responde com o arquétipo, aliado às proporções de cores do deck.

Os decks de controle são conhecidos por usar mais terrenos que os demais, então nada mais esperado do que usar todas as Checks que têm direito, o que os daria bases de mana configuradas da seguinte maneira, usando a combinação Jeskai como um exemplo:


Base de Mana Jeskai

Shocks

4Hallowed Fountain
4Steam Vents

Checks

4Clifftop Retreat
4Glacial Fortress
4Sulfur Falls

Outros

3Field of Ruin
1Island
1Mountain
1Plains

Os outros decks em geral deverão usar menos terrenos. Usando a combinação Abzan como exemplo poderíamos ter:


Base de Mana Abzan

Shocks

4Overgrown Tomb
4Temple Garden

Checks

3Isolated Chapel
3Sunpetal Grove
3Woodland Cemetery

Outros

2Field of Ruin
2Swamp
1Forest
1Plains

Esses exemplos trazem bases de mana quase que totalmente equilibradas em cores e usando terrenos de utilidade arbitrários. Partindo dessa base você pode refinar seu deck até que ele tenha a configuração de mana mais favorável.

Decks de Quatro Cores (Splashs)

A limitação de Shocks é algo que realmente não favorece decks de quatro cores, mas eles ainda aparecem, mais comumente na forma de splashs. No GP Atlantic City 2013 temos o Staticaster-Peddler, um deck Jund que faz splahs de azul para Estimago Izzet. Também tivemos o Dark Naya, Naya com splah para preto, que usava algumas cartas pretas chaves, muitas vezes saindo do sideboard para transformar o deck. Esses decks não são parâmetros perfeitos para a análise de base de mana, pois eram construídos para se beneficiar ao máximo da mágica Busca Longínqua, que também pode buscar Shocks, mas ainda podem nos ensinar algumas coisas.

O que era feito na construção da base de mana desses decks era adicionar Shocks e Checks na cor do splash e diminuir o número de terrenos básicos, em alguns casos eliminando-os totalmente. No Standard de Guildas de Ravnica isso não é muito aconselhável devido a presença de Campo da Ruína, mas efeitos parecidos podem ser alcançados com substituições entre as próprias Fetchs e Shocks. Porém é importante notar que no Standard de Retorno a Ravnica tínhamos presente o terreno Quarteirão Fantasma, e mesmo assim os splash aconteciam. De todo modo, devido ao alto custo de implementação deve-se considerar profundamente se o splash realmente vale a pena antes de fazê-lo.

Isso nos dá um panorama geral de como as bases de mana devem se parecer no futuro do Standard, pelo menos até que as outras Shocklands se juntem ao formato. Devemos nos lembrar que a acessibilidade de cores nas bases de mana nos dão apenas algumas direções a ser tomadas e que cartas poderosas devem ser jogadas mesmo que a combinação de cores em que está compreendida não seja favorecida.

Enquanto isso os previews da coleção estão a todo vapor. Finalmente estamos chegando em Ravnica! Qual é sua guilda preferida da nova coleção? Que arquétipos te parecem melhores nesse novo formato? Qual combinação de cores vai dominar os campeonatos? Sinta-se livre para usar nossa seção de comentários. Você também pode nos alcançar na página, email (artesaosdomagic@gmail.com) ou twitter (@artesaosdomagic). Obrigado pela leitura.

Thiago Santos