sexta-feira, 28 de setembro de 2018

As Histórias do Mundial de Magic 2018

Semana passada aconteceu um dos eventos mais importantes para a cena profissional de Magic: the Gathering quando 24 dos melhores jogadores do mundo disputaram o título de Campeão Mundial. Com tantos talentos envolvidos a competição ficou recheada de belas histórias, muitas que vinham se desenvolvendo há bastante tempo e que trazem um apelo especial às competições.

No entanto isso não foi verdade no que concerne ao formato do torneio principal, que recebeu muitas críticas de jogadores e espectadores. A parte de Limitado se deu com draft de Dominária, coleção lançada há mais de cinco meses atrás, em Abril. O Standard tampouco trouxe muitas novidades, sendo um formato há muito estagnado, apenas esperando a renovação que deve que acontecer semana que vem, com a rotação. Um renovação que será muito profunda, pois, como comentou Saffron Olive em seu twitter, deve atingir aproximadamente 85% do metagame do torneio. De qualquer forma, o RB-Aggro mostrou novamente sua posição de dominância, representando mais da metade dos decks registrados.
Metagame do Mundial de Magic 2018

Resultados do Hall da Fama



Antes de chegarmos à competição de fato, o Mundial 2018 também nos apresentou aos resultados da votação para o Hall da Fama do Pro Tour. As temporadas de votação para a honraria são um ponto de grande divergência entre a comunidade, alguns gostam, outros detestam, mas todos chegam a um acordo na importância de mesmo estar entre os nomeados. Estar no Hall da Fama é a maior honra que pode ser recebida nesse jogo e o objetivo de todo jogador que inicia sua carreira profissional.

Na Turma de 2018, que será condecorada oficialmente no Pro Tour Guildas de Ravnica dentro de algumas semanas, estão dois jogadores. O primeiro deles é o estadunidense Seth Manfield, jogador que já possui um dos currículos mais impressionantes, que conta, por exemplo, com os títulos do Pro Tour Ixalan e do Mundial de Magic 2015, e que, para muitos, está no pico de sua carreira, com muitos anos vitoriosos ainda pela frente. O segundo é Lee Shi Tian, de Hong Kong, que só precisou de uma nomeação para se tornar o primeiro jogador da geo-região Ásia-Pacífico que não é japonês a entrar no Hall da Fama. Junto com seu currículo também robusto, contando com cinco Top 8 de Pro Tours, Lee é louvado por suas contribuições para o jogo em sua região, sendo até mencionado como o "Willy Edel da Ásia".

Parabéns a esses dois jogadores que recebem ao entrar no Hall da Fama do Pro Tour uma honra que premia uma carreira.
Votos para a turma de 2018 do Hall da Fama do Pro Tour

Disputa pelo Jogador-do-Ano


Seth Manfield também estava envolvido em mais uma importante história do fim de semana: a disputa pelo título de Jogador-do-Ano. O prêmio, que é concedido ao jogador com mais pontos em cada temporada baseado em suas performances, manteve-se acirrado ponto a ponto, evento a evento, e terminou num empate entre Seth e o argentino Luis Salvatto quando este último obteve uma ótimo resultado no GP Estocolmo. Embora essa disputa deva ser resolvida em um playoff com local, data e formatos ainda a serem definidos, seria uma boa prévia ver como esses jogadores se sairiam nesse campeonato.

E o resultado para os dois não foi nada bom, com ambos ficando na metade de baixo da classificação. Tanto Manfield quanto Salvatto terminaram o torneio com 18 pontos, mas o argentino ficou à frente na classificação por critérios de desempate. Seria esse um presságio para o que vai acontecer quando os dois se enfrentarem buscando mais um título? Teremos que esperar para ver.

Final do Pro Tour Team Series



Dessa vez continuamos com Salvatto para a empolgante final do Pro Tour Team Series. A equipe Hareruya Latin, formada pelo argentino e seu compatriota Sebastian Pozzo, os brasileiros Carlos Romão, Thiago Saporito e Lucas Esper Berthoud, e pelo português Márcio Carvalho, que venceu a desconfiança e desconsideração com resultados muito expressivos por toda a temporada, enfrentaria a equipe Ultimate Guard, que contava com grandes figuras do Magic, como o considerado melhor jogador de todos os tempos, Jon Finkel, acompanhado de Andrew Cuneo, Paul Rietzl, William Jensen, Owen Turtenwald e Reid Duke, pelo título em equipes jogando um pela primeira vez o Selado de Guildas de Ravnica, formato que todos estavam ansiosos para assistir.

As equipes receberam as cartas e tiveram duas horas para montar os seis decks da equipe. Depois as equipes se dividiriam em dois trios que se enfrentariam e a equipe que conquistasse duas vitórias receberia o título. Se ao final do embate dos trios as equipes estivessem empatadas, os trios vencedores se enfrentariam para por fim à disputa.

Os primeiros trios a se enfrentar seriam Carlos Romão (Dimir), Márcio Carvalho (Boros), Thiago Saporito (Selesnya) contra Jon Finkel (Dimir), Andrew Cuneo (Selesnya) e Paul Rietzl (Boros), numa disputa que não demorou muito. Rietzl pilotou um deck Boros muito rápido e potente e conseguiu sua vitória contra o Selesnya de Saporito. O deck de Boros de Carvalho, no entanto, não era tão rápido ou potente e sucumbiu frente ao Selesnya de Cuneo. Assim a equipe Ultimate Guard terminou liderando o embate.

Os próximos trios que se enfrentaram foram Reid Duke (Selesnya), Owen Turtenwald (Boros), William Jensen (Dimir) contra Sebastian Pozzo (Boros), Luis Salvatto (Izzet) e Lucas Esper Berthoud (Golgari). A situação começou a melhorar para a equipe latina quando todos os seus integrantes venceram suas primeiras partidas. Num novo embate entre Boros e Selesnya, Sebastian Pozzo conseguiu a vitória contra Reid Duke e colocou a Hareruya a apenas uma partida de empatar tudo e levar para o desempate. Jensen e Turtenwald tinham outros planos, no entanto, e venceram, em conjunto, as últimas quatro partidas seguidas para dar à equipe Ultimate Guard o título do Pro Tour Team Series 2017-2018.
A equipe Ultimate Guard é campeã do Pro Tour Team Series 2017-2018!


O Título Mundial


Depois de tudo isso finalmente estamos prontos para a disputa do título do Mundial de Magic, e vamos direto para o Top 4 do evento, que foi muito diverso em termos de nacionalidade, o que é muito bom para o jogo. Classificando em primeiro lugar tivemos o espanhol Javier Dominguez, que no Mundial de 2017 caiu na final para o campeão William Jensen. Ele estava determinado a não deixar isso acontecer novamente e basicamente liderou a competição de ponta a ponta com seu RB-Aggro. Na cola dele estava o polonês Grzegorz Kowalski, que, também pilotando um RB-Aggro, conseguiu uma ótima performance para a primeira vez que disputava esse torneio. Kowalski também contava com um vice-campeonato no ano passado, quando foi o capitão da equipe polonesa que foi à final da Copa do Mundo de Magic. A terceira vaga ficou com o estadunidense integrante do Hall da Fama, Ben Stark, que, prevendo a infestação de RB-Aggro, adotou uma construção mono-colorida e mais rápida, que lhe garantiu ótimos resultados nos Dias 1 e 2. A vaga final foi para o israelense Shahar Shenhar, marcado na história por ganhar o Mundial na primeira vez que se classificou e defender o título no ano seguinte, sendo o único jogador a ganhar dois Mundiais seguidos. Destoando do resto, ele pilotou um UW Gift para tentar conseguir mais um título mundial.

A primeira semi-final se deu entre Dominguez e Shenhar. No primeiro jogo ambos tiveram o começo perfeito e Dominguez começou com ameaças rápidas e constantes, mas elas se provaram inúteis quando Shenhar obteve seu combo no turno 4, o que o ganhou o jogo. No segundo embate Dominguez foi mais comedido e aproveitou seu turno 2 para conjurar um Coração de Kiran que manteve a pressão e acabou levando o jogo. O padrão alternado se repetiu para as próximas partidas, levando a disputa a um jogo 5. Nele Shenhar manteve uma mão que prometia o começo perfeito, como no jogo 1, mas que foi arruinada pelas peças de descarte de Dominguez, que se aproveitou para descer suas ameaças, manter a pressão e conquistar sua vaga na final.

Na outra semi-final Stark, que havia desenvolvido seu deck para ser mais rápido que a concorrência, viu o contrário acontecer para Kowalski. O RB-Aggro continuou a apresentar ameaças rápidas que minaram Stark em três jogos levando o polonês para a final.

A final ficou então para um mirror de RB-Aggro entre Javier Dominguez e Grzegorz Kowalski. Dominguez começou com a vantagem tomando o primeiro jogo nas costas de um Portador da Glória e de um Lança Correntes. Ele começou o segundo jogo com a mesma intensidade, mas dessa vez foi respondido à altura por Kowalski, que manteve o jogo em paridade, abaixando os pontos de vida de Dominguez até um Cortar // Pedaços finalizar tudo.

O jogo 3 foi marcado por planinautas, Karn para Javier e Chandra para Grzegorz. O espanhol abriu mão do dele, no entanto, para remover a do polonês e obter controle do campo com criaturas. As remoções de Kowalski vieram no momento certo, virando o jogo e o colocando em vantagem no embate. No jogo seguinte o sideboard de Dominguez se destacou quando O Ancião Renascido eliminou uma Hazoret e logo depois reanimou um Karn, o que assegurou a vitória, levando tudo para o jogo 5. Tudo foi decidido por um Cair da Perdição que no turno três revelou vários drop-4 na mão de Kowalski. Javier aproveitou então para aplicar pressão sobre o oponente, que não conseguiu achar seus terrenos. Num ataque final Grzegorz Kowalski estendeu a mão e parabenizou o Campeão Mundial de Magic de 2018, Javier Dominguez.
Javier Dominguez saiu de um difícil vice-campeonato em 2017 para se tornar campeão em 2018

O Protesto de Gerry Thompson


A última história do torneio fica para um jogador que abdicou de seu direito de disputá-lo, Gerry Thompson. No sábado, cerca de uma hora antes do início das competições, Gerry anunciou no reddit e em seu twitter que estava abandonando a disputa do mundial em protesto ao estado do Magic profissional.

Entre os pontos citados por Thompson estão um descaso da Wizards em relação aos jogadores profissionais, que recebem mal para jogar em alto nível e não são promovidos, embora sejam grande parte do motivo pelo qual os espectadores assistem Magic. Ele cita ainda uma falta de comunicação entre a Wizards e os jogadores, a falta de convites de Pro Tour capaz de satisfazer a comunidade, o pouco avanço na cobertura de eventos e a postura da Wizards quanto a jogadores que conhecidamente trapacearam.

Em sua postagem Gerry também dá vários exemplos de situações que reforçam seus argumentos, assim como sugestões de como melhorar a experiência profissional do Magic. Ele diz ainda que escolheu esta forma de protesto porque sabia que assim seria notado, já que, segundo ele, o feedback dado pelos profissionais no passado era raramente implementado.

Gerry Thompson abriu mão de no mínimo $2,500 em seu protesto e o potencial de ganhar $100,000 caso fosse campeão. Além disso uma boa performance no campeonato colocaria seu nome ainda mais próximo do Hall da Fama do Pro Tour.

A Wizards já divulgou uma declaração sobre o ocorrido dizendo que "esperavam que este não fosse o caso, mas respeitam a decisão [do Gerry Thompson] de se fazer escutado". O objetivo de todos, Wizards, profissionais e espectadores, é fazer com que o Magic melhore e cresça como um jogo de uma forma saudável e sustentável e as questões levantadas por Gerry Thompson são obstáculos significativos para isso. Esperemos que o final dessa história seja outro sucesso.

E isto finaliza um fim de semana cheio de emoções. Parabéns a Seth Manfield e Lee Shi Tian, turma de 2018 do Hall da Fama do Pro Tour, equipe Ultimate Guard, campeã do Pro Tour Team Series 2017-2018, e Javier Dominguez, campeão Mundial de Magic de 2018!

Grandes decisões, grandes jogadores, grandes histórias. E pra você, qual foi a melhor parte do fim de semana do Mundial? Estava torcendo para que equipe? E jogador? Concorda com as questões levantadas por Gerry Thompson? Sinta-se livre para usar nossa seção de comentários. Obrigado pela leitura.

Thiago Santos

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