sexta-feira, 17 de agosto de 2018

As Apostas dos Meta-decks

Há algumas semanas atrás uma análise comum para o Standard é que ele era um formato praticamente resolvido, em que uma carta, Goblin Lança-Correntes, e o deck que a acompanhava e a fazia brilhar, o RB-Aggro, era forte demais e também com representação demais para que caísse de posição no formato e que o melhor mesmo era esperar a rotação, que vem em outubro. Tudo isso mudou, no entanto, no Pro Tour de 25º Aniversário, quando um novo desafiante, impulsionado pela Coleção Básica 2019, na forma do Turbo Fog, chefiado pelo Nexo do Destino.

O deck ataca diretamente os decks de criatura ao utilizar muitos efeitos de Neblina, em Bruma de Pólen e Armadilha de Raízes, para inutilizar os ataques do oponente, o que às vezes se torna quase equivalente a pular um turno adversário se o deck for muito focado no combate. Ao mesmo tempo que faz isso ele sobrevive para montar o mecanismo formado pela combinação de Nexo do Destino, Teferi, Herói de Dominária, e Busca por Azcanta e tomar turnos extra seguidos para finalmente vencer o jogo com um ultimate de Teferi ou constructos criados por Karn, Rebento de Urza.

O arquétipo teve uma excelente performance no Pro Tour, com uma taxa de vitórias reportada que se aproximava da casa dos 80% e destaque em um momento em câmera, em que ganhou uma partida de forma impecável. O sucesso do deck foi tão grande que um de seus pilotos no campeonato, David Williams, recomendou os planos de sideboard de não mudar nenhuma carta nos jogos contra RB Aggro, Steel Leaf Stompy e BG Constrictor.

Com um resultado dessa magnitude os jogadores ficaram muito empolgados com o deck e a oportunidade de pô-lo a prova logo chegou com os Grand Prix Bruxelas e Orlando, então muitos jogadores arrumaram suas cópias de Nexo do Destino, colocaram no sleeve e foram pro campo conseguir suas vitórias, o que se manifestou no Metagame do Dia 2 de ambos os GPs.

Podemos ver que o topo do Metagame, especialmente os três primeiros decks, é bastante semelhante nas duas competições, com o Turbo Fog tomando o lugar que era cativo do Steel Leaf Stompy como o segundo deck mais jogado. Apesar disso, os decks de criatura mais populares, presas para o Turbo Fog, aparecem com cerca de 40% de todo o campo, então seria natural se esperar mais uma performance arrasadora do deck.

Todavia não foi isso que aconteceu. Entre os dois campeonatos apenas um jogador alcançou o Top 8 com o deck, mas não chegou às finais, ficando em 4º lugar. Expandindo um pouco, dos 32 decks que reúnem o Top 16 dos dois GPs, apenas 3 são Turbo Fog. No Grand Prix Orlando, em especial, a melhor performance conseguida pelo deck foi um modesto 19º lugar. A razão para esse resultado aparentemente surpreendente é simples: Turbo Fog é um Meta-deck.

Meta-decks são decks desenvolvidos para atacar uma característica específica prevalente no formato, seja nos decks do topo do Metagame, seja no campo como um todo. Dessa forma, decks como esses são extremamente dependentes do campo que vão enfrentar, variando sua efetividade de campeonato para campeonato, e, como consequência, também variando sua popularidade.

Como dissemos no último artigo tanto o formato do PT25A, Construído de Trios, quanto o atual calendário de competições, com muito tempo entre o lançamento das coleções e seus respectivos Pro Tours, direcionam os jogadores a escolher decks já estabelecidos e dominados no formato. Tentar quebrar o formato nessa situação se torna altamente arriscado, pois se trata de jogar uma aposta contra os melhores jogadores do circuito com os melhores decks do formato, mas foi o que o Turbo Fog fez, atacando o fato de que o topo do formato era formado por decks de criatura que vencem por combate. Assim, o deck encontrou um campo em que quase 60% dos decks eram aqueles que o Turbo Fog foi desenvolvido para ganhar, o que aumentou suas chances de vitória, mesmo que o formato fosse de equipes.

No entanto isso não é tudo que faz um Meta-deck. Além da influência óbvia e pura do Metagame, esses decks também são geralmente associados com o elemento surpresa, trabalhando com ele sempre a seu favor para garantir o máximo de vitórias possíveis contra oponentes que não estejam preparados para enfrentá-lo. Pelos mesmos motivos que os jogadores no PT escolheram decks já estabelecidos, eles esperavam que os outros jogadores também o fizessem. Assim, quando enfrentava um Turbo Fog, mesmo que não estivesse usando um deck aggro, os jogadores não sabiam como reagir, pois não haviam se preparado para aquela partida.

Esses dois fatores são suficientes para explicar o desempenho fraco do Turbo Fog nos GPs Bruxelas e Orlando. Em primeiro lugar a porcentagem de decks aggro caiu drasticamente de um fim de semana para o outro, de 60% para 40% somente no topo, e o pareamento de confrontos seria individual, ao contrário do PT. Isso significa menos das "partidas-grátis" para o deck e mais partidas disputadas e difíceis. Em segundo lugar o deck perdeu completamente seu elemento surpresa, indo de desconhecido para o deck mais falado no Standard, e os oponentes tiveram uma semana para preparar a partida.

O jogadores de RB Aggro, por exemplo, talvez o deck que mais que sofre contra o Turbo Fog, rapidamente se adaptaram incluindo cópias de Insulto // Feitiço, que completamente inutiliza as Neblinas, no seu sideboard, além de Chandra, Chama da Rebeldia, que descentraliza o jogo da fase de combate e adiciona ao deck mais uma condição de vitória. Outros jogadores simplesmente decidiram jogar com arquétipos de Controle, com destaque ao Esper, campeão em Bruxelas, Midrange, como o Grixis e o Sultai, 3º em Orlando e Bruxelas respectivamente, ou Combo, como o UW Segundo Sol, campeão em Orlando. Todos essas essas são partidas mais desafiadoras para o Turbo Fog que já estão acostumadas a lidar com os aggro.

O princípio básico aqui é simples. Ao identificar um Meta-deck fique sempre atento aos dois fatores que fazem o deck poderoso, que são atacar uma característica do formato e se aproveitar do elemento surpresa. Utilizando esses dois fatores como guia fica mais claro em quais situações e em quais eventos você pode maximizar sua performance, no caso de querer utilizá-lo e também quais mudanças e escolhas fazer, caso você fique contra um. O Metagame está sempre em constante mudanças, mesmo que elas sejam sutis, e um período curto, de dias, como foi no caso do PT25A para esses GPs, pode transformar um deck favorito num fiasco, de forma que é um erro pular de cabeça num deck com base em poucos resultados, apenas um nesse caso, ou em Metagames específicos.

A última coisa agora é decidir o que fazer se seu Meta-deck cair de performance e há geralmente duas opções. Alguns decks têm a vantagem de poderem ser adaptados para enfrentar diferentes eventos, fazendo ajustes, que podem ir de mudanças no sideboard a uma completa reconstrução. Esse é o caso dos deck de Nexo do Destino, pois seu mecanismo principal, o de tomar vários turnos extra seguidos, é forte e com poucas restrições de construção, então, mesmo se o Turbo Fog acabar desaparecendo, essa estratégia ainda vai ter espaço em outras construções. A segunda opção, a mais dolorosa, é simplesmente parar de usar o deck e esperar para quando o Meta-game ficar mais favorável.

Há de se lembrar que jogar com Meta-decks é uma aposta, e como tal, tem riscos associados. Uma boa análise prévia do formato e do evento em que você vai competir é um fator determinante para a sua performance e a performance do seu deck e um divisor de águas entre uma campanha vitoriosa e uma decepcionante.

Isso coloca um ponto final, ao menos por enquanto, no assunto Meta-decks. E você, joga com algum deles? Qual sua estratégia para manter a performance? E como realiza as mudanças nos seus decks para cada evento? Sinta-se livre para usar nossa seção de comentários. Você também pode nos alcançar na página, email (artesaosdomagic@gmail.com) ou twitter (@artesaosdomagic). Obrigado pela leitura.

Thiago Santos

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