sexta-feira, 25 de maio de 2018

O Magic no Oriente

Desde o dia de anúncio de semana passada já aconteceu muita coisa. A comunidade se empolgou com o retorno do retorno a Ravnica, nós tentamos entender melhor a controvérsia da política de cartas promocionais e a temporada oficial de spoilers de Battlebond já começou e chegou ao fim. No entanto, o anúncio de um novo produto, Global Series: Jiang Yanggu & Mu Yanling, quase não foi comentado, até mesmo ignorado, mas, se olharmos para o grande esquema das coisas ele representa muito para o futuro do Magic: the Gathering.


Um novo produto


O produto em si não é nada demais, com a exceção de algumas peculiaridades. Representando a cultura e a mitologia da China traduzida ao Magic, Mu Yanling e Jiang Yanggu são planinautas canônicos, o que significa que podem aparecer eventualmente em enredos futuros, que encabeçam cada um seu respectivo decks, a serem lançado em 22 de junho. Os decks serão, de fato, muito similares aos Decks de Planeswalker lançados com cada coleção que chega ao Standard. Foram criados para serem produtos introdutórios ao jogo e não orientado para serem usados em torneios sérios.

A peculiaridade do produto advém justamente de sua legalidade em torneios. As cartas dos decks de Yanling e Yanggu serão legais em Vintage e Legacy, no Standard somente na China, e não serão legais em Modern, como são seus análogos de cada coleção. Essa legalidade regional pegou os jogadores de surpresa, mas foi justificada com o intuito de permitir os consumidores alvo do produto, novos jogadores falantes de Chinês, usar suas cartas em eventos sancionados locais, como o Friday Night Magic. Além disso, produto será lançado em Inglês e Chinês Simplificado.

A Wizards já lançou alguns produtos parecidos no passado. Não podemos nos esquecer da coleção Portal Três Reinos. O set literalmente se passa na China antiga e contém 180 cartas que contam o momento histórico do famoso épico Três Reinos, que tem tanta importância na Ásia quanto os épicos homéricos têm no ocidente. Todas as citações nas cartas, a não ser que indicadas de outra forma, foram retiradas do épico e a arte da coleção foi feita completamente por artistas chineses. Portal Três Reinos foi impresso em Japonês, Chinês Simplificado, Chinês Tradicional e Inglês.

A empresa também já tentou estratégia similar especificamente no Japão, com o relançamento do Duel Deck: Jace vs Chandra localizado com artes inéditas para os dois planinautas, estilizadas no estilo Anime/Mangá ilustradas por Yoshino Himori, e cartas em japonês. Na época a Wizards chegou a até lançar um mangá que contava a história do romance O Fogo Purificador, história de origem de Chandra, ilustrado pelo mesmo artista das cartas de Jace Beleren e Chandra Nalaar e publicado pela revista Dengeki-Maoh.
Símbolo da coleção Portal Três Reinos, representando o caractere chinês para o 3.
Embora não saibamos da profundidade da campanha nisso, o Japão é, hoje, um dos polos estabelecidos de Magic: the Gathering, contando com representantes talentosos em basicamente qualquer evento. Como prova desse talento o Japão é o atual Campeão do Mundo de Magic the Gathering, título conquistado por Kenta Harane, Yuuya Watanabe, e Shota Yasooka, e também tem a Equipe Campeã Mundial do Pro Tour Team Series 2016-2017 com Equipe Musashi.

Um novo mercado


Então, numa primeira análise, o lançamento de Global Series: Jiang Yanggu & Mu Yanling parece ser uma tentativa da Wizards de atingir o mercado asiático, em especial o que fala Chinês. Entretanto, o lançamento desse produto é apenas um pequeno e mais visível passo que a Wizards dá nesse sentido.

No dia 23 de abril deste ano a Wizards publicou o anúncio de uma parceria com a empresa Tencent para levar o Magic Arena e outros jogos futuros para a China. Se você ainda não conhece a Tencent, ela é a maior empresa de investimentos do mundo, uma das maiores no ramo de internet e tecnologia e, com a Tencent Games é a empresa mais valiosa no ramo de jogos e mídias sociais. Seu valor de marcado atinge os US$580 bilhões e é a empresa mais valiosa em toda a Ásia.

O acordo entre a Wizards e a Tencent inclui a publicação digital exclusiva de seus jogos em plataformas mobile, PC e consoles, e também transmissão exclusiva de eventos de E-sports, na China, Tailândia, Vietnã, Indonésia, Filipinas, Malásia, Cingapura, Myanmar, Camboja, Laos e Brunei.

Todos esses países representam uma fatia de mercado de jogos que só cresce e se torna mais relevante no cenário mundial de jogos a cada dia que passa e que a Wizards nunca foi capaz de atingir, mas que agora a Tencent pode entregar diretamente nas mãos a mais promissora aposta para o crescimento do Magic, que é o Magic Arena.

Digo isso dado que os números de crescimento e lucro do Magic têm sido mais tímidos, o que é esperado, já que o jogo já passou por uma fase de crescimento muito grande que começou em 2014 e, mesmo que o mercado de jogos de cartas no ocidente não esteja saturado ainda,  há cada vez menos público que ainda não foi impactado pelo Magic: the Gathering.

Assim, uma plataforma digital amigável e bem construída pode reabastecer o público de Magic no ocidente e a parceria com a Tencent representa centenas de milhões de potenciais jogadores que nunca antes tiveram contato com a marca no oriente que podem fortalecer o Magic Arena como uma plataforma digital e também inflar os números do Magic como um todo.

Os futuros possíveis


A China já tem muitos jogadores de Magic talentosos. Sua equipe na Copa do Mundo de 2017, formada por Lu Chao, Liu Yuchen e Gao Tan, chegou às quartas-de-final da competição, derrotada pela Itália. Agora, imagine que o Magic fosse um jogo de relevância no país. Ou na Tailândia, Cingapura, Indonésia e outros. Como isso transformaria o evento e a cena profissional do Magic. Imagine a grandiosidade de um GP Pequim se jogadores de todas as partes de um país continental como a China viajassem para competir em alto nível. Esses são apenas detalhes de como a entrada do mercado asiático transformariam o jogo que jogamos.

Por outro lado, imagine que a parceria Wizards-Tencent não se torne frutífera, que o Magic não vingue em terras orientais. A Wizards e a Hasbro estarão muito pressionadas em impulsionar o crescimento de uma marca com um mercado cheio. As esperanças do Magic podem depender apenas do Magic Arena e outras plataformas digitais e, em cenários desse tipo, erros pequenos podem custar muito e, num caso extremo, significar o fim da Wizards e, consequentemente, do Magic: the Gathering.

Ainda temos muitos anos pela frente antes que qualquer um desses cenários se torne verdade e estaremos atentos a todos os passos da Wizards nessa caminhada. Enquanto isso devemos aproveitar o Magic como jogo e celebrar cada novo jogador que se une a nós nessa jornada.

E você, o que acha dessa nova tentativa da Wizards de alcançar a Ásia? Acha que o Arena será a salvação do Magic? Você sente que o mercado de jogo de cartas está saturado? Qual sua opinião sobre este novo produto, o Global Series? Sinta-se livre para usar nossa seção de comentários. Você também pode nos alcançar na página, email (artesaosdomagic@gmail.com) ou twitter (@artesaosdomagic). Obrigado pela leitura.

Thiago Santos

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